Textos sobre as práticas parentais

Colo

Texto publicado a 02/04/2020

O colo é o centro do mundo. Ele não vicia, não estraga, não prejudica. Pelo contrário, o colo alimenta o bebé/criança com aquele que é um dos ingredientes fundamentais para o desenvolvimento infantil: a segurança. O colo é amor, o colo organiza, o colo protege.
Mães, pais, não tenham medo de dar colo às vossas crias, o colo é o conforto máximo, a união mais perfeita entre vocês os dois. O toque pele com pele tem o poder de curar. O vosso bebé precisa. Imaginem o que é viver tantas experiências novas, aprender tanto sobre si e sobre este mundo novo (com todas as alegrias e angústias que isso implica) e não ter nada nem ninguém que os ajude a organizar, a acalmar, a entender. Sintam o que as vossas crianças precisam e correspondam a essa necessidade. Nós, cuidadores, temos o dever de ser portos seguros, colos abertos para as nossas crianças. Uma criança cresce e desenvolve-se no movimento de vai e vem: vai explorar o mundo e depois vem para onde se sente segura. Por isso, esperem-nas se braços (e colos) abertos, sim?

Falar com o bebé

Texto publicado a 27/05/2020

Não temos dúvida que os bebés in útero reagem à voz da mãe. As investigações têm permitido perceber que, ao ouvir a voz da mãe, o bebé apresenta variações no batimento cardíaco, atividade motora diferenciada (abre a boca, boceja menos, movimenta-se) e respostas neuronais específicas (determinadas áreas cerebrais ficam ativas).
A mãe que fala com o bebé que está na sua barriga está a estimular o desenvolvimento do seu bebé e está a investir na ligação entre eles. Essa ligação pré-natal será a base na qual vai assentar a relação depois do bebé nascer. Nessa altura, o mundo será completamente novo para o bebé… Imaginem o quão tranquilizador pode ser ele ouvir a mesma voz que ouvia antes de nascer ou até aquela música especial que a mãe lhe canta desde que se lembra… (P.s. a voz do pai pode ser igualmente importante).

O problema

Texto publicado a 30/11/2023


O problema não é que lhe dês demasiado colo.
O problema não é que esteja habituado ao embalo.
O problema não é que mame para adormecer.
O problema não é que ele durma contigo.
O problema não é que o mimes demais.
O problema são as vozes que tentam calar o que tu sentes que está certo.
O problema é que não acolham as tuas emoções.
O problema é que te façam duvidar das tuas competências, quando todos os dias estás a tentar fazer o melhor pelo teu bebé.
O problema é a "tribo" que em vez de te estender a mão, te aponta o dedo.
Nem todas as escolhas que fazemos pelos nossos filhos estão certas. Não existem mães perfeitas. E isto não significa que não podemos mostrar ao outro que há outras formas de estar ou gerir a maternidade. Mas significa que o devemos fazer com empatia, com acolhimento e, acima de tudo, com amor. Chega de apontar o dedo às mães.

Segurança, limites e respeito

Texto publicado a 05/10/2023


Não, não podes ser as duas coisas. Se queres ser o porto seguro, não podes ser também aquele que assusta e cria inseguranças.
A segurança é fundamental. É um chão, que nos permite ficar tranquilos, explorar o mundo, ter curiosidade e aprender. É condição essencial para que possamos mostrar quem somos, expressar o que sentimos e exercer a nossa voz.
Mas ouvimos tantas vezes que as crianças precisam de limites!
Precisam de limites para a sua voz?! Pois, não é isso. Precisam é de saber que essa sua voz (válida e importante) deve ser expressa de forma positiva (para si, para os outros, para o mundo).
Então, as crianças não precisam de quaisquer limites! Precisam apenas de limites que fazem sentido e que contribuem para o seu desenvolvimento saudável. Precisam de limites que são coincidentes com os seus cérebros em desenvolvimento. Precisam de limites que são comunicados com RESPEITO e SEM VIOLÊNCIA.
As crianças não têm as mesmas competências que os adultos. Simplesmente não conseguem regular-se ou expressar-se da mesma forma que nós. Mas isso não faz delas seres inferiores!
Então e o respeito pelo adulto?! O tal respeitinho de que todos ouvimos falar ao crescer…
Pois bem… Tu respeitas mais quem te trata bem ou quem te trata mal?
Gritos, palmadas, ameaças… Ao contrário do que muitos pensam, não fazem com que ninguém nos respeite. Só fazem com que tenham medo de nós.
E atenção, ninguém cresce saudável, ninguém aprende e ninguém atinge o seu potencial de desenvolvimento quando vive num ambiente de medo. Sim, leste bem, nem mesmo aquela pessoa que diz que “também levei e sou saudável”. Essa é a pessoa que ainda não conseguiu olhar para as suas feridas e refletir sobre a sua história. É a pessoa que ainda não consegue fazer diferente. Talvez um dia consiga...
Não é uma questão de teorias, é uma questão de ciência.

Ralhar e castigar

Texto publicado a 05/10/2022


Crescemos a ouvir que os comportamentos "errados" têm de ser repreendidos. Mas será mesmo assim?
Ora vejamos, as crianças não nascem a saber como é suposto comportarmo-nos em sociedade e precisam da nossa ajuda para aprender. Não são mini adultos e ainda estão a desenvolver as suas competências de regulação emocional e comportamental. Mas nascem naturalmente boas, sem desejo de manipular ou fazer mal a outros.
Pois, tendo isso em conta, só identifico 3 razões para as crianças terem comportamentos que não desejamos:
1 - Não têm competências para ter o comportamento que desejamos - porque o seu cérebro em desenvolvimento ainda não lhes permite
2 - Não sabem como é suposto comportar-se ou não percebem porque têm de se comportar de determinada forma - porque não lhes explicámos de forma a que os seus cérebros em desenvolvimento compreendam
3 - Não conseguem, apesar de terem competências para tal e de lhes teremos explicado bem - e isso acontece porque não estão bem, estão desregulados, desorganizados

Pois então, se a criança não tem competências (razão 1), ralhar não vai resultar. Ajustarmos as nossas expectativas será concerteza mais proveitoso.
Depois, se a criança não sabe como se comportar ou não percebe porquê (razão 2), ralhar também não servirá. Melhorar as nossas competências de comunicação parece-me um caminho muito mais promissor.
Por fim, se a criança não consegue porque não está bem (razão 3), ralhar não melhorará o seu estado emocional (pelo contrário). A crianças até pode parar com o comportamento (por medo), mas continua internamente desorganizada. Então, temos de a ajudar a autorregular-se e cuidar da sua saúde mental.
Uma criança que está bem, comporta-se bem. Repreender um comportamento ou mandar uma criança comportar-se bem é focar apenas no visível, no sintoma. E o visível é importante, mas não é tudo!
Olhemos para os comportamentos como comunicação, como sintomas ou pedidos de ajuda e usemos os nossos cérebros de adulto para ajudarmos as nossas crianças.