Textos sobre perda gestacional
Para além de tudo
Texto publicado a 15/10/2024
O amor resiste para além do tempo,
Para além do visível, do palpável.
O amor resiste para além da vida,
Para além da perda,
Para além da dor.
O amor resiste sempre,
Para sempre,
Para além de tudo.
Luto perinatal
Texto publicado a 15/10/2022
Porque é que, muitas vezes, é difícil fazer o luto de uma perda perinatal?
Aqui vão algumas razões:
- Porque, em geral, a nossa sociedade tem dificuldade em reconhecer, compreender e lidar com a perda gestacional/neonatal.
- Porque é preciso fazer o luto pelo futuro. Luto por aquilo que se imaginou, desejou e não se viveu.
- Porque é geralmente difícil encontrar uma explicação para a perda, o que acentua o sentimento de culpa dos pais.
- Porque crescemos com visões romantizadas da gravidez, que tornam mais difícil a aceitação de uma experiência tão diferente e difícil.
- Porque há um sentimento de perda da identidade como pais. E, muitas vezes, surge a percepção de que se falhou.
- Porque, para muitos pais, esta é a primeira ou uma das primeiras grandes perdas que experienciam na vida.
Os pais que sofreram uma perda gestacional/neonatal precisam de sentir, precisam de tempo, precisam de respeito, precisam de tempo, precisam de amor.
Porquê eu?
Texto publicado a 15/10/2022
Não sei porquê a ti.
Mas sei que não é justo não teres o teu filho nos teus braços.
A dor imensa que sentes é válida.
Existe, tal como o teu filho existe, embora tenhas sido tão curto o tempo que viveram juntos nesta terra.
E onde quer que a sua alma esteja, sei que sente todo o amor que tens por ele.
A culpa não é tua. Foste e és a melhor mãe que o teu bebé podia ter.
A verdade é que nunca será fácil, mas será menos difícil se te rodeares de amor e empatia.
Não estás sozinha ❤
Carta de uma mãe para o seu bebé
Texto publicado a 05/10/2020
Não interessa se foi muito ou pouco o tempo em que o teu coração bateu na minha barriga, porque vivias nos meus sonhos muito antes de existires. Lembro-me, como se fosse hoje, de pensar que tinha dentro de mim um amor infinito e de olhar a barriga através do espelho, na esperança de ver esse amor crescer fisicamente. Lembro-me da alegria de saber que existias em mim, embora a lembrança do dia em que te perdi queira tantas vezes abafar os momentos bons que vivemos juntos. Perder-te foi - e continua a ser - a coisa mais difícil que vivi na vida. Não tenho uma foto nossa à qual me agarrar, nunca conheci o teu cheiro para me conseguir lembrar nem vi o teu rosto uma única vez, para conseguir sonhar. Dizem que assim - sem nada onde me “agarrar”, é mais difícil de se fazer o luto e eu acho que têm razão... Agora, passado algum tempo, sinto-me melhor, mas não voltei a ser a mesma. Digam o que disserem, eu agora sou mãe. Não existes neste mundo, mas existes no meu coração... Muitas pessoas parecem fingir que não exististe, talvez porque falar da perda gestacional é um assunto que lhes “mete medo”. Mas perder um bebé durante a gravidez é um assunto sério e não falarmos dele torna os casais que passam por isto - como eu e o papá - ainda mais isolados. Sim, ainda mais, porque a tua ausência causa solidão suficiente, acredita. Desde que partiste, nós precisamos ainda mais dos abraços e dos colos de quem nos ama. E também precisamos dos sorrisos (mesmo por detrás da máscara) e das gargalhadas de quem nos lembra que a vida merece ser vivida. Mas isso não implica fingir que não exististe - pelo contrário, serve para celebrar o tempo em que viveste.