Textos sobre amamentação
Os desafios da amamentação
Texto publicado a 11/07/2020
Dar de mamar é algo para o qual estamos biologicamente preparadas. Mas isso não quer dizer que seja algo simples ou fácil, especialmente para mães de primeira viagem. É uma tarefa nova, desconhecida, que exige aprendizagens. E, dada a sua importância, é uma tarefa com um grande “peso” na vida das recém-mães, capaz de motivar muitas alegrias e muitas tristezas.
E talvez por sabermos que não é algo assim tão fácil, muita gente quer ajudar e dá informação que considera relevante. O problema é que essa informação é geralmente fruto de uma vivência pessoal ou de um conhecimento comunitário não baseado em factos científicos. E isso é um problema porque a amamentação, tal como qualquer aspeto da relação mãe-bebé, é um processo único. As informações alheias não têm em conta as especificidades e características únicas daquela relação única e, por isso, frequentemente causam mais mal do que bem.
Imaginem uma mãe, frágil devido ao pós-parto, ouvir que o seu leite é fraco. Esta opinião não solicitada pode ter um impacto tão grande naquela mulher que a deixa ainda mais fragilizada e com o sentimento de ser incompetente enquanto mãe. Uma opinião informada não falaria em “leite fraco”, porque isso simplesmente não existe. É “simplesmente” leite, o leite mais perfeito para aquele bebé único.
Agora imaginem uma mãe que amamenta um bebé mais crescido ouvir - ela e o seu bebé - que o bebé já é muito grande para ser amamentado. Esta opinião, também não solicitada, poderá deixar a sensação de que estão a fazer algo errado, surgindo a vontade de esconder ou acabar com algo que é importante para ambos e que os deixa felizes. E quem somos nós para interferir com a felicidade dos outros? Ninguém. Uma opinião informada saberia que a amamentação prolongada é uma opção perfeitamente válida e deve ser uma decisão de cada família. Se é algo que nos incomoda, é importante refletirmos sobre isso.
No fundo, a mensagem que vos quero passar é que é importante pensar antes de se falar sobre o processo de amamentação de uma família. O melhor que podemos fazer é ouvir (em vez de falar), ajudar (em vez de magoar) e apoiar (em vez de criticar). Pratiquem a empatia! - os bebés e papás agradecem.
Quando a amamentação não acontece
Texto publicado a 03/06/2020
Sim, o leite materno é o melhor alimento para o bebé. Mas são muitas as mulheres com quem me cruzo que não amamentaram ou não amamentaram em exclusivo os seus filhos. Umas porque não conseguiram, outras porque não puderam, outras porque não quiseram. Muitas carregam uma enorme culpa, como se fosse preciso amamentar e gostar de amamentar para se ser boa mãe. A sociedade em que vivemos não perde tempo em dizer que há apenas um caminho certo (amamentar em exclusivo até aos seis meses), tornando todos os outros caminhos errados. E perante isso, mesmo a mãe que decidiu não amamentar tenderá a sentir-se mal, como se escolhesse o caminho errado para o seu bebé. Por isso, é preciso que todo o mundo saiba que cada família é única, cada família tem a sua história e as suas características únicas. E, portanto, cada família terá o seu percurso único. Felizmente, vivemos num mundo em que há pessoas especializadas para nos ajudarem (CAM’s) e alternativas perfeitamente válidas que ajudam os nossos filhos a crescer saudáveis. E mesmo com um biberão na mão, não precisam de faltar olhares, colinhos, miminhos e tantos outros momentos especiais.
As pessoas precisam de saber que mais importante do que se amamentar ou não, é serem felizes. E só é possível ser-se feliz quando aceitamos o nosso caminho e largamos a culpa.
Semana do Aleitamento Materno
Texto publicado a 03/08/2020
De 1 a 7 de agosto comemora-se a Semana Mundial do Aleitamento Materno de 2020. Este ano, o tema em foco é o meio ambiente, sensibilizando para o facto de que apoiar ao aleitamento materno é apoiar um planeta mais saudável! Amamentar, além de saudável, não polui nem consome recursos. E, por isso, temos todas as razões e mais algumas para incentivar o aleitamento materno!
.
Esta semana serve também para celebrar todas as mamãs que amamentam ou amamentaram (tenha sido uma vez, alguns meses ou até alguns anos) e para acarinhar todas as mamãs que não o conseguiram fazer.
A amamentação é uma das questões que mais preocupa os pais no período do pós-parto e sei que, para muitas famílias, amamentar não é um percurso fácil e simples. Por isso, é preciso trabalharmos para transformar este mundo num mundo em que todas as mulheres têm o direito a ser apoiadas com amor, tranquilidade, respeito e informação cientificamente sustentada no seu processo de amamentação. Só assim poderemos contribuir para um mundo melhor!
Desmame
Texto publicado a 24/11/2021
Apoiar o desmame não significa incentivá-lo. Não nos cabe a nós impor uma vontade nossa a outra pessoa, seja qual for essa vontade. Apoiar significa, sim, fornecer suporte e orientação, para que as mulheres não se sintam sozinhas ou perdidas em qualquer etapa da maternidade, incluindo o desmame. Isto porque o leite materno "não tem data de validade" (é bom e recomenda-se!), mas ninguém mama para sempre e, por isso, todas as mulheres que amamentam e bebés amamentados um dia terão de passar por um processo de desmame. E esse processo não devia ser um tabu, vivido em silêncio e sofrimento. Mas o facto de, na maioria das vezes, ser tabu, faz com que muitas mulheres exitingam a amamentação de forma abrupta e não planeada, o que pode trazer consequências físicas e psicológicas para as mães e para os bebés/crianças. O desmame abrupto pode provocar sentimentos de rejeição, insegurança e tristeza e pode ter um impacto negativo na relação mãe-bebé, relação essa que é estruturante da vida mental dos humanos. Portanto, quando falamos do processo de desmame, falamos de algo realmente importante!
Então, não há volta a dar! Precisamos de dizer às mulheres que as apoiaremos quando decidirem que não querem amamentar mais. Cabe-nos procurar compreender a sua motivação para o desmame e proporcionar-lhes informação e orientação para concretizarem o que desejam, da melhor forma.
Cabe-nos a todos apoiar, profissionais e não profissionais, porque a saúde e bem-estar das famílias importa e tem impactos no presente e no futuro de todos nós. Não nos podemos esquecer que é na infância que "cultivamos" a saúde mental dos adultos. Por isso, cuidar da saúde mental das crianças e dos seus pais é cultivar um futuro melhor.